Um dos assuntos que mais me toca é o tabu que envolve o tema da infertilidade. Como médica eu vivencio no meu dia a dia questões que envolvem medo, insegurança e culpa. Quando uma mulher não fala sobre a infertilidade que está vivendo, muitas vezes é porque se sente sozinha vivenciando a dor de não conseguir engravidar. E eu digo e repito a todas que chegam até mim: ao seu lado existem outras mulheres vivendo essa dor, elas só não falam sobre isso.
E o que dizer do tabu religioso? Eu, que tenho na minha fé a minha fortaleza, sei como pode ser cruel precisar de um tratamento para realizar um sonho e não conseguir realizá-lo por questões que envolvem a fé. Eu mesma vivi essa dor antes de ter o meu primeiro filho há 15 anos. Eu me sentia indo contra a vontade de Deus, porque se Ele é bom e eu não engravidava naturalmente, devia existir uma razão. Por que eu procuraria ajuda e iria contra a vontade de Deus?
Não é fácil e simples lidar com medos e angústias. A gente sofre sozinha, se cala e muitas vezes carrega uma culpa por anos.
Eu sou tão grata hoje pela vida dos meus filhos, por tê-los na minha vida e por ter conquistado essa alegria por meio da capacidade que Deus deu à Medicina de auxiliar no tratamento da minha infertilidade! Para conseguir superar esse tabu na minha vida eu precisei conversar com as pessoas em quem eu confiava até ter a coragem de buscar ajuda médica. Mais leve do peso da culpa, descobri minha endometriose, fiz tratamento, realizei uma fertilização in vitro e realizei meu sonho de ser mãe.
Hoje, como médica, eu olho com atenção para os tabus que minhas pacientes vivenciam. Eu respeito e ouço com atenção a dor de cada uma, de cada um. Eu quero que elas saibam que estarei sempre pronta para conversar sobre os medos e os tabus porque acredito que juntas, nós mulheres, podemos compartilhar e apoiar umas às outras sempre.